quarta-feira, 18 de junho de 2014

Alguns precursores da Linguística Ecossistêmica


0. Introdução

Linguística Ecossistêmica é o ramo brasileiro da Ecolinguística, que tem como centros a Universidade de Brasília e a Universidade Federal de Goiás, o eixo Brasília-Goiânia, em torno da Escola Ecolinguística de Brasília, embora ela tenha participantes em diversos estados do país e até no exterior. O objetivo desta postagem é rastrear algumas das ideias surgidas ao longo do tempo que anteciparam o que atualmente se pratica em Linguística Ecossistêmica, que é a variante da Ecolinguística praticada por essa escola. Este levantamento não tem a menor pretensão à exaustividade.
Antes de mais nada, é preciso lembrar que para a Linguística Ecossistêmica a língua é vista como interação, no espírito do que apregoava Mikhail Bakhtin, embora não no do seu viés marxista. Isso porque ela se baseia no conceito central da Ecologia, o ecossistema, no qual o que interessa são as interações. Elas são basicamente de dois tipos: interação organismo-mundo e interação organismo-organismo. Como sabemos, linguístico-ecossistemicamente o primeiro tipo de interação corresponde à referência, a interação que se dá entre a palavra e o fenômeno do mundo a que ela se refere. Às vezes, essa interação é também chamada de significação, designação, denominação, nomeação etc. É interessante lembrar que, na interação palavra-coisa, podemos partir da coisa e procurar pela palavra que a designa (visão onomasiológica), ou da palavra e indagar a que coisa ela se refere (visão semasiológica). Pode acontecer de ela se referir a mais de uma coisa, caso da polissemia ou da homonímia. O segundo tipo de interação equivale à interação comunicativa, costumeiramente chamada apenas de comunicação.
A língua é interação em todos os sentidos, de modo que não se trata apenas dos dois tipos recém-mencionados, que são interações exoecológicas. Há ainda as interações endoecológicas, aquelas que tradicionalmente se tem chamado de estruturais. Na sintaxe, temos interação entre palavras formando uma locução, das locuções formando orações, das orações formando parágrafos, textos e assim por diante, além da interação entre eles e o estado de coisas a que se referem. Na morfologia temos estratégias estruturais para o alargamento do poder referencial da língua. Do verbo con.stitu.ir, por exemplo, a morfologia forma con.stitu.i.ção, con.stitu.cion.al, com.stitu.cion.al.ismo etc. Os morfemas que constituem as palavras são formados por sílabas que, por seu turno, são formadas por fonemas. E assim sucessivamente. Trata-se de uma reutilização de recursos já existentes na língua, fenômeno eminentemente ecológico.
Ao longo da história, grande parte dos estudos tem se restringido às interações língua-mundo (referência) e às interações entre elementos de uma estrutura. As interações exoecológicas entre pessoas (comunicação) e entre elas e a língua só passaram a merecer a atenção dos estudiosos em época relativamente recente. Menos atenção tem merecido o contexto em que as interações exoecológicas se dão. 
Antes de passar em revista os precursores da Linguística Ecossistêmica propriamente ditos, gostaria de salientar dois precursores imediatos, ou seja, aqueles que propulsionaram nossa disciplina na década de noventa. Um deles é Alwin Fill, que teve um papel decisivo no estabelecimento da disciplina, não só com Fill (1987) e Fill (1993), mas também organizando congressos, simpósios, mesas-redondas e publicando coletâneas ecolinguísticas. O outro é Adam Makkai que, além de ter publicado um livro com a palavra ‘ecolinguística’ na capa no mesmo ano do de Fill (Makkai 1993), já vinha propondo a abordagem ecológica aos fenômenos da linguagem desde a década de setenta (Makkai 1972).
Falar em relação língua-mundo ou palavra-coisa pode dar a entender, e geralmente dá, que língua e palavra são coisas, que se relacionam com outra coisa, o mundo ou a coisa (objeto, ou fenômeno do mundo). Na verdade, o mais correto é dizer relação pessoa/língua-mundo, usuário/palavra-coisa. Quem entre em relação com o mundo ou com a coisa é o falante da língua, seu usuário, abaixo designado por "pessoa", de modo que podemos sintetizar a expressão 'interação língua mundo' como 'interação pessoa/língua-mundo' (PL-M), e 'interação palavra-coisa' como 'interação pessoa/palavra-coisa (PP-C). Mas, por economia usarei a representação L-M, P-M e variantes. Como mostra a figura 1, a palavra é um tipo de relação do indivíduo com o mundo e a língua é um padrão de interação da população com o mundo (L = palavra; P = pessoa; M = mundo, coisa). A relação de L com M é sempre por intermédio de P, a despeito das concepções “construtivistas”, que afirmam que só temos acesso ao mundo via linguagem (cf. o “entremundo” de Humboldt!).

L—P—M
Fig. 1

1. Língua na interação pessoa-pessoa: comunicação
O ponto de partida para a concepção de língua como interação é a própria Ecologia, cujo conceito central é o de ecossistema, no interior do qual o conceito central é o de interação. O conceito definidor do ecossistema linguístico é a interação comunicativa verbal (L), não os falantes (P) nem o espaço (T) em que se encontram. Na verdade, as reflexões filosóficas que implicam essa visão de língua recuam à Antiguidade. Entre os gregos, começa pelo menos com Heráclito (ca. 500 a.C.), precursor da dialética, embora Maritain (1959: 44) tenha afirmado que seu precursor foi Sócrates. Heráclito afirmava que tudo está sempre mudando (panta rei) e que a disputa está na origem de tudo (pólemos patér pánton). Para ele, o mundo se constituía de interação. Sócrates (469-399 a.C.) também é um precursor dessa visão interacional. Seu método maiêutico consistia em ensinar dialogando, ele era um eterno discutidor, além de ter sido o iniciador da ética, como afirma Maritain. No Oriente, temos o taoísmo, que também recua a milhares de anos antes de Cristo. Como mostrei em Couto (2012b), essa filosofia vê o mundo como um eterno movimento cíclico, de modo muito parecido com o de Heráclito.
Pulando para o final da Idade Média e o período da Renascença, temos o catalão Juan Luís Vives (1492-1540) que, embora como voz solitária, dizia: "não me agrada muito essa observação dos preceptores, e, se tivéssemos um povo de fala latina ou grega, eu preferiria com ele passar um ano para aprender essa língua a passar dez anos sob os mestres mais cultos" (Apud Coseriu 1980: 76). Para ele, para aprender uma língua era preciso interagir com seus falantes.
Muitos outros filósofos anteriores, contemporâneos e posteriores defendem a visão interacionista, mesmo que implicitamente. Poderíamos alinhar ainda Baruch Espinosa (1632-1677), Rousseau (1712-1778), Hegel (1770-1831) com sua teoria dialética, o materialismo dialético e histórico, com Karl Marx (1818-1883) e Friedrich Engels (1820-1895), e a neomarxista Escola de Frankfurt. Um dos mais novos seguidores desta última, Habermas (nascido em 1929), é conhecido como proponente da teoria da ‘ação comunicativa’ (kommunikatives Handeln). Um pouco antes temos as Investigações filosóficas (1953) de Ludwig Wittgenstein (1889-1951). Diferentemente do que havia feito em Tractatus logico-philosophicus de 1921 (inteiramente metafísico), em 1953 ele propôs uma teoria que via na linguagem um jogo, ou seja, interação. 
No âmbito dos estudos estritamente linguísticos, podemos começar pelos dois iniciadores do estruturalismo, Ferdinand de Saussure (1857-1913) na Europa e Leonard Bloomfield (1887-1949) nos Estados Unidos. Ambos deixam implícito que a função da língua é a comunicação. Em Saussure, temos a famosa figura de duas faces voltadas uma para outra interagindo, nos capítulos iniciais do Curso de linguística geral (1916). Um dos capítulos iniciais do livro Language (1933), de Bloomfield, é a interação (estímulo-resposta) entre Jack e Jill. No entanto, por terem uma visão instrumental da língua reificavam-na como instrumento de comunicação, de modo que a interação ficava apenas implícita, não era a essência de suas teorias. Uma ilustre exceção entre os seguidores de Saussure é Eugenio Coseriu (1921-2002). Em toda sua obra ele defendeu a tese de que a língua existe na interação, e que a estrutura é uma abstração forjada pelo linguista a partir dela. Usando "hablar" por interação e "lengua" por estrutura, ela afirmou que "mientras que la lengua se halla toda contenida en hablar, el hablar no se halla todo contenido en la lengua" (Coseriu 1967: 287). Infelizmente, entre os estruturalistas, ele foi um solitário defensor dessa tese.
Koch (2004) apresenta uns cinco modelos teóricos que tratam da "interação pela linguagem", título de seu livro. Primeiro, "a Teoria da Enunciação tem por postulado básico que não basta ao linguista preocupado com questões de sentido descrever os enunciados efetivamente produzidos pelos falantes de uma língua: é preciso levar em conta, simultaneamente, a enunciação - ou seja, o evento único e jamais repetido de produção do enunciado. Isso porque as condições de produção (tempo, lugar, papéis representados pelos interlocutores, imagens recíprocas, relações sociais, objetivos visados na interlocução) são constitutivas do sentido do enunciado" (p. 12). Essa teoria tem como precursor Mikhail Bakhtin (1895-1975) e Émile Benveniste (1902-1976). Se não fosse a herança marxista e estruturalista, respectivamente, desse modelo, aqui teríamos quase que uma caracterização da ecologia da interação comunicativa.
Em seguida Koch apresenta a Teoria dos Atos de Fala, surgida na filosofia analítica, mas "apropriada pela Linguística Pragmática", e "tendo como pioneiro J. L. Austin, seguido por Searle, Strawson e outros". Eles mostram que não basta a proposição lógica "a terra é redonda". Assim teríamos apenas um ato locucionário. Em atos de fala concretos, fica implícito, por exemplo, algo como "eu afirmo que a terra é redonda" ou "eu pergunto se a terra é redonda", caso em que teríamos atos ilocucionários. Por fim, uma expressão como "eu te batizo" ocorre junto com o ato de batizar, num ato perlocucionário. Como se vê, já se preocupa com a interação, mas de modo ainda muito tímido.
O terceiro exemplo dado pela autora, a Teoria da Atividade Verbal, não é muito convincente. Ela teria sido praticada na ex-URSS e na ex-Alemanha Oriental, partindo de ideias de Vygotski, Leontiev e Luria. O quarto são os postulados conversacionais de Grice. Eles contêm quatro máximas, ou seja, máxima da quantidade (não diga nem mais nem menos do que o necessário), máxima da qualidade (só diga coisas para as quais tem evidência adequada; não diga o que sabe não ser verdadeiro), máxima da relação ou relevância (diga somente o que é relevante) e máxima do modo (seja claro e conciso; evite a obscuridade, a prolixidade) (p. 27). Tudo isso tem a ver com a interação comunicativa, mas muito indiretamente.     
O quinto modelo apresentado por Koch é o que tem mais afinidades com a Linguística Ecossistêmica. Trata-se da Análise da Conversação, originada na sociologia interacionista, que se inspirou na Etnometodologia de Harold Garfinkel (1917-2011). Como se pode ver em Sacks, Schegloff & Jefferson (1978), o objetivo é estudar a estrutura da conversação como atividade social. Alvos dessas análises eram a tomada de turno, tida por Levinson como um dos universais da linguagem, questões como pergunta-resposta, saudação-saudação, solicitação-aceitação/recusa etc. Não fosse a restrição ao domínio exclusivo do social, aqui teríamos o programa da ecologia da interação comunicativa (Koch 2004: 76-77). Marcuschi (1986) é uma boa apresentação dessa proposta.
Hoje em dia existem outros modelos interacionistas, ou pretensamente interacionistas, como o funcionalismo, a linguística interacional, a linguística integracional e outros. No entanto, a maioria deles tem uma visão instrumental da língua, considerando-a um instrumento que as pessoas usam para se comunicar. Para a Linguística Ecossistêmica, a língua não tem por função a expressão do pensamento nem a comunicação. Ela é a própria expressão do pensamento e a própria comunicação, juntas e integradas. Ela é a interação (verbal) que se dá entre cada dois membros do ecossistema linguístico. 

2. Língua na interação pessoa-mundo I: a significação
Para começo de conversa, é necessário salientar que para a Linguística Ecossistêmica as palavras não se relacionam com as coisas por si sós, como dão a entender alguns estudos sobre referência. Para ela as interações língua-mundo são mediadas pelos usuários da linguagem, em consonância com o ecossistema fundamental da língua e como mostrado na figura 1, acima. Portanto, sempre que eu falar em interação palavra-coisa, entenda-se relação entre ser humano e coisa utilizando a palavra. Os estudos sobre esse tipo de interação recuam à Antiguidade, tanto greco-latinos quanto indianos ou chineses. O famoso diálogo platônico Crátilo é dedicado a ela. No taoísmo ela faz parte da essência das preocupações com a linguagem, recuando ao I ching e ao Tao te ching, sobretudo o primeiro. Isso sem falar no confucianismo, cuja ênfase central é na veracidade do que se diz, ou seja, com a precisão da relação palavra-coisa a fim de evitar ambiguidades, mal-entendidos e não entendidos. Esse tipo de estudo era tão importante na Antiguidade que Ammirova et al. (1980) dedica 20 páginas a ele. Para os autores, “a essência das teorias linguísticas dessa época consistia em fornecer regras para o uso da língua, regras que deviam ser encaradas como resultado de uma denominação prévia de coisas”. Eles continuam dizendo que “essa denominação em última instância dá lugar à estrutura da língua” (p. 36).
A questão da referência perpassa por todo período medieval, como se pode ver em Robins (1951) e Leroy (1974), alternando-se entre “realistas (para os quais as palavras são apenas o reflexo das ideias) e nominalistas (que creem que os nomes foram dados arbitrariamente às coisas” (Leroy 1974: 19). A questão da significação era tão importante que seus praticantes passaram a ser chamados de modistae (modistas), devido à grande quantidade de estudos cujo título começava com a expressão De modis significandi (sobre os modos de significar).
Em 1660, vem a lume a Grammaire générale et raisonnée, de Arnauld e Lancelot. Ela trata da linguagem de diversos pontos de vista, inclusive morfossintáticos, mas sempre tendo a semântica por base, ou seja, a interação língua-mundo, a referência. Essa obra racionalista deu lugar mais tarde às chamadas ‘gramáticas filosóficas’, de que temos a de Jerônimo Soares Barbosa em português.
Em filosofia da linguagem, a relação palavra-coisa continua sendo objeto privilegiado de estudo. Um bom exemplo é o estudo de Gottlob Frege “Über Sinn und Bedeutung” (sobre o sentido e a referência), de 1892. Outro exemplo bastante incisivo é o primeiro Wittgenstein (Tractatus logico-philosophicus, 1921, 1922), que exerceu grande influência sobre os positivistas lógicos. Nesse contexto, deve ser lembrado também o trabalho de Bertrand Russell. O grande problema em todos esses trabalhos é que consideram apenas a relação palavra-coisa, como se elas existissem no ar. Inclusive a teoria do signo de Saussure está nesse caso. Foi o mal-humorado e injustiçado pai da semiótica, Charles Sanders Peirce (1839-1914), quem introduziu o usuário da linguagem, mostrando que a palavra (signo) representa a coisa para alguém. Ele a define (a palavra, ou seja, o seu signo) assim: “Um signo [...] é algo que, sob certo aspecto ou de algum modo, representa alguma coisa para alguém” (Peirce 1972: 94). Como se vê, ele não só introduziu o usuário, mas incluiu também o contexto. Não é para menos que a representação triádica de seu signo seja uma das inspirações para o ecossistema fundamental da língua. Em Peirce temos uma formulação convincente de que toda e qualquer relação da palavra com a coisa é mediada pelo usuário, como defende a Linguística Ecossistêmica. É claro que por mais indireta que seja a relação palavra-coisa, ela existe, tanto que já na Idade Média Juan Luís Vives (1492-1540) dizia que "posto de lado o significado, as palavras são coisa vazia e morta" (apud Coseriu 1980: 70). No entanto, não podemos esquecer que essa relação é mediada pelos membros da comunidade.

3. Interação pessoa-mundo II: o contexto
Já sabemos que por interação “palavra-mundo” entende-se a relação dos falantes com o mundo usando a linguagem. As primeiras reflexões sobre a linguagem viam-na como um conjunto de palavras, cuja relação com o mundo tentavam explicar. O problema é que, como já vimos, encaravam essa relação como se ela se desse entre a “coisa” palavra e a coisa mundo. Ignoravam o fato de que palavras (e a própria língua) só existem no usuário, como vimos com Peirce. O contexto da interação comunicativa entre dois interlocutores e o da língua como sistema dificilmente têm sido mencionados. Na presente seção, pretendo fazer um pequeno apanhado do papel do espaço para a língua em geral. Vou examinar, portanto, aquilo que em Linguística Ecossistêmica se chama T, do tripé povo (P), língua (L) e território (T). O contexto ou cenário da interação comunicativa será examinado na seção seguinte, embora P faça parte desse cenário.
O máximo que podemos ver nesse sentido nos primórdios da reflexão sobre a língua é a ideia vaga de que a “língua” dos gregos existia na Grécia; a dos romanos, em Roma; a dos egípcios, no Egito e assim por diante. A partir de pelo menos Johann Georg Hamann (1730-1788), cujas ideias foram retomadas por Johann Gottfried Herder (1744-1803), começou-se a associar língua a nação, que compreenderia povo, território e toda a cultura. Essa concepção foi minuciosamente dissecada por Wilhelm von Humboldt (1767-1835) cujas ideias foram, por sua vez, retomadas por Leo Weisgerber, em sua Inhaltsbezogene Grammatik (gramática ligada ao conteúdo). Para esses autores, a língua é um espelho da nação, ou seja, ela está ligada a algo exterior, seu meio ambiente. Eles são precursores da teoria do campo, introduzida na Linguística por Jost Trier (1894-1970), embora ele falasse em 'campo lexical', como se pode ver em Trier (1966/1938). Em Schaff (1974: 15-48) há uma ótimo apanhado crítico dessa tradição. Nos estados Unidos, ideias parecidas foram veiculadas na tradição que vai de Franz Boas (1858-1942), passando por Edward Sapir (1884-1939), autor do primeiro ensaio sobre língua e meio ambiente, a Benjamin Lee Whorf (1897-1941). Como em Couto (2007: 56-59) há uma discussão relativamente detalhada dessa tradição, remeto a(a) leitor(a) a essa publicação que, aliás, contém muitas outras informações sobre a história da Ecolinguística.
A ideia de língua relacionada ao espaço físico (o T linguístico-ecossistêmico) aparece de modo bastante enfático na teoria das ondas (Wellentheorie) do comparatista Johannes Schmidt (1843-1901). Contrariando seu mestre August Schleicher (1821-1868), de que as línguas evoluem de forma arborescente (por anagênese ou por cladogênese), ramificando-se como proposto na teoria de Charles Darwin (1809-1882) para a biologia, a teoria das ondas de Schmidt defende a ideia de que as inovações linguísticas se propagam no espaço como ondas concêntricas a partir de um ponto em que se joga uma pedrinha. A partir desse ponto, as ondas vão se propagando centrifugamente. Essa teoria continua válida pelo menos parcialmente.
O polêmico linguista soviético Nikolas Jakolaievitch Marr (1864-1934), quando não por ser marxista, era de opinião de que a língua estava inextricavelmente ligada ao meio (povo e território), de modo que ela é um reflexo desse meio. Reconheceu que cada segmento social tem sua linguagem específica. Juntando isso à asserção de que a língua comum é uma ficção, temos aí o germe da distinção entre ‘comunidade de língua’ e ‘comunidade de fala’. Finalmente, Marr se interessou também pelo contato de línguas e a “hibridização linguística” (contato de línguas), tudo relacionado ao espaço.
A relação língua-espaço (território) foi explorada de modo minucioso pela Dialetologia e por sua parente Geografia Linguística. Até aproximadamente o século XVIII, estudava-se a língua como um todo normativo, frequentemente ligado a um estado, diante da necessidade de se procurar uma língua nacional comum frente aos dialetos. Com a Dialetologia, começa a surgir um interesse pelos dialetos regionais. Segundo Malmberg (1971: 82), podemos distinguir dois métodos de pesquisa dialetológicos, sendo "o primeiro [...] a mera descrição do dialeto que chegava normalmente a monografias dialetais". "O segundo método empregado [...] foi o que se chamou de geografia linguística ou dialetal". Daí o surgimento dos atlas linguísticos, iniciados com o alemão Georg Wenker (1852-1911) por volta de 1881. Seus mapas mostravam que cada palavra tem suas fronteiras, contestando o determinismo das leis fonéticas dos neogramáticos.
A Geografia Linguística deslanchou definitivamente com as pesquisas de Jules Gilliéron (1854-1926) e seu auxiliar para pesquisa de campo Edmond Edmont (1849-1926). De 1902 a 1910, eles produziram o Atlas linguistique de la France, o primeiro do gênero. Se os inquéritos de Wenker se preocupavam com fenômenos fonéticos à la neogramáticos, os de Gilliéron recaíam sobre as palavras das comunidades regionais. Notaram que a partir de certos centros (Paris, Florença) as inovações expandem-se na direção da periferia, em consonância com a teoria das ondas de Schmidt. Como as inovações chegavam à periferia muito lentamente, ela era, portanto, conservadora. A relação da língua com o espaço estava tão estabelecida que se passou a usar a terminologia da Geografia (geografia linguística, estratigrafia, isoglossa etc.). Ficou claro que "não se pode estudar uma língua cientificamente e utilmente sem conhecer o meio em que a língua é escrita e falada", "a linguagem humana não pode ser isolada do meio em que é utilizada". Isso está em perfeita sintonia com os postulados da Linguística Ecossistêmica. 
No que tange à relação palavra-coisa, surgiu a escola das Wörter und Sachen (palavras e coisas), tendo à frente Rudolf Meringer (1859-1931) e Hugo Schuchardt (1842-1927). De modo natural, a Etnografia começou a ajudar nas pesquisas dialetológicas. Destaca-se o estudo da toponímia, que demandava conhecimentos linguísticos, históricos e do meio ambiente. Surgiram igualmente estudos de onomasiologia, aqueles que relacionam a coisa à palavra que a designa. Esses estudos tiveram desdobramento, entre outros, na Neolinguística (ou linguística areal) italiana, com Matteo Bartoli (1873-1946), Giulio Bertoni (1878-1942), Giuliano Bonfante (1904-2005) e Vittore Pisani (1899-1990) à frente. Influenciados também pela filosofia de Benedetto Croce e a de Wilhelm von Humboldt, eles se dedicaram ao estudo da distribuição das línguas e dialetos pelo espaço, antecipando o que o pai da Ecolinguística, Einar Haugen, faria várias décadas mais tarde. Aí se incluem questões como contato de línguas, difusão dialetal, ausência de fronteiras rígidas entre línguas e dialetos, o que aproxima mais uma vez a dialetologia da noção de ecossistema, que é delimitado pelo observador. 
Enfim, com a dialetologia e a geografia linguística a relação L-T veio à tona de modo flagrante, embora não se tenha tido consciência de que essa relação se dá sempre via população (P), como Peirce mostrou pioneiramente e como é defendido pela a Linguística Ecossistêmica.
O primeiro linguista no sentido moderno do termo que tratou da relação língua-meio ambiente foi Edward Sapir (1888-1939). Em 1911, ele pronunciou uma conferência sob o título "Language and environment", na Associação Antropológica Americana. O texto saiu no American anthropologist 14 p. 226-242 (1912) e, posteriormente, nos Selected Writings of Edward Sapir in language, culture and personality (cf. Mandelbaum 1949). Em 1969, Joaquim Mattoso Câmara Jr. traduziu o texto e o incluiu na coletânea Sapir (1969), sob o título de "Língua e ambiente", talvez pelo fato de a expressão "meio ambiente" ainda não ser muito popular na década de sessenta. Se Haugen é o "pai" da Ecolinguística, Sapir é o "avô". De qualquer forma, ele é um precursor da Ecolinguística, sobretudo da Linguística Ecossistêmica.
Por fim, gostaria de mencionar mais dois autores que sempre estudaram a língua no contexto em que ela existe. O primeiro é o inglês John Rupert Firth (1890-1960). Ele a via sempre como comportamento no "contexto da situação". Michael Halliday foi seu aluno e formulou sua Linguística Sistêmico-Funcional partindo de suas ideias. A segunda é a romena Tatiana Slama-Cazacu, com seu livro de 1959 Limbaj si context, traduzido para o francês em 1961 como Langage et contexte. Em Couto (1999: 98-99) há um apanhado geral de sua contribuição para a ideia de língua relacionada ao contexto em que é usada.
Voltando ao conceito de 'ecossistema linguístico' em si, sabemos que ele tem sua origem imediata no de 'ecossistema biológico'. Este, por seu turno, foi proposto pela primeira vez em Tansley (1935), embora a história da Ecologia recue até bem antes disso. Deixando de lado as reflexões dos gregos (Aristóteles, Teofrasto), um dos primeiros pioneiros da Ecologia é Antoni van Leeuwenhoek (1632-1723), o primeiro a estudar as 'cadeias alimentares', e Carl Linnaeus (1707-1778), ou Lineu, que examinou a 'economia da natureza' e criou o sistema binominal de nomeação de espécies vegetais, sendo que o primeiro nome designa o gênero e o segundo a espécie, como Psidium guajava L, nome da goiabeira. Karl Möbius (1825-1908) desenvolveu o conceito de 'comunidade ecológica', também conhecida como 'biocenose'. Ernst Haeckel (1834-1919) criou o conceito de 'ecologia' em 1866. Enfim, a história de Ecologia está intimamente associada à da Biologia.
Uma outra fonte para o conceito de ecossistema é o de Gestalt em Psicologia, que vai de aproximadamente 1910 a 1967. A Gestalt, por sue vez, foi influenciada pela teoria do campo da física, tanto que seu seguidor Wolfgang Köhler (1887-1941) fora aluno de Max Planck. O gestaltista heterodoxo Kurt Lewin (1890-1947) enfatizava o comportamento humano em seu contexto físico e social. Ele retomou o conceito de Lebensraum (campo psicológico, espaço vital) proposto originalmente pelo criador da geografia humana Friedrich Ratzel (1844-1904). A despeito do mau uso que os nazistas fizeram dele, como Georg Schmidt-Rohr (1890-1945), trata-se de um conceito muito interessante. De acordo com Lewin, o espaço vital inclui não só o presente, mas também o passado e o futuro que possam influenciar a pessoa, o que lembra a dimensão temporal da visão ecológica de mundo. Segundo Schultz & Schultz (2009: 319), "Lewin postulou um estado de equilíbrio entre a pessoa e o seu ambiente. Quando esse equilíbrio é perturbado, surge uma tensão [...] que leva a algum movimento, numa tentativa de restaurar o equilíbrio". Para Lewin, "assim como o indivíduo e o seu ambiente formam um campo psicológico, assim também o grupo e o seu ambiente compõem um campo social" (p. 320). Lewin propôs a fórmula C = f(PM), que diz que o comportamento (C) é função (f) da pessoa (P) em seu meio (M).
É importante ressaltar que os geltaltistas não separam corpo e mente rigidamente, considerando-os como parte de um todo. De novo, trata-se de uma ideia que está em perfeita sintonia com a visão ecológica de mundo. Em vez de serparar, junta-se, de modo abrangente, holístico. O ecolinguista Wilhelm Trampe mostrou que Albert Bandura (nascido em 1925) retomou essa fórmula e a ampliou, "na medida em que apresenta o comportamento como grandeza identificável e vê um inter-relacionamento entre as três grandezas P, M e C" (Trampe 1990: 190). Trampe representa isso da seguinte forma:

P
/    \
C-----M
Fig. 2

Essa figura lembra o signo triádico de Peirce (1972: 94), sobretudo na representação de Ogden & Richards (1972: 32), mostrada na figura 3, em que S é signo, R representante e I interpretante.

I
/    \
S----R
Fig. 3

Fica patente que essas relações triádicas são precursoras do ecossistema fundamental da língua, fulcro da Linguística Ecossistêmica, que contém em si três outros ecossistemas linguísticos mais específicos, que são o ecossistema natural, o mental e o social. A representação do ecossistema fundamental da língua é a que se vê na figura 4. Seus componentes são os mesmos da figura 1, bastando apenas substituir o M de mundo por T de território e a representação linear pela triangular.

P
/    \
L----T
Ecossistema Fundamental da Língua
Fig. 4

De maneira explícita o ecossistema fundamental da língua foi proposto inicialmente em meados da década de noventa do século passado, inclusive com a representação triangular, embora a ideia em si recue a Couto (1986). Em Couto (1998: 2) ele apareceu pela primeira vez em forma escrita, fato que se repetiu de modo mais desenvolvido em Couto (1999: 91, 115-124). Nesta segunda monografia já se falava em "ecolinguística" e "ecologia linguística", outro nome para Ecolinguística, na Linguística Ecossistêmica. Por fim, a ideia foi desenvolvida em relativa profundidade em Couto (2007: 89-108), o primeiro manual de introdução à Ecolinguística a ser publicado em português. Em seguida vieram a lume diversos livros e artigos desenvolvendo o ecossistema linguístico, inclusive o natural, o mental e o social.

4. Língua como interação
Sintetizemos a ideia de língua como interação, integrando os dois tipos fundamentais de interação em um todo, como na figura 5, e, em seguida as interações endoecológicas e as interações exoecológicas. A interação pessoa-mundo (referência) está representada por p-A, no caso, "A" de assunto de que os interlocutores falam. As interações pessoa-pessoa (comunicação) estão representadaa por p1--p2, ou seja, quaisquer duas pessoas da população.

a < ------- >
 --------- > 
p1         p2
 \        /
  \    /
  A
Língua como interação
Fig. 5

Seguindo os índices alfabéticos, nota-se que a interação começa com o indivíduo (p1) percebendo um acidente ou fenômeno do mundo, aqui representado por A (linha oblíqua esquerda). No caso, geralmente p1 pode ter outros contatos com o fenômeno. Se ele tiver que se reportar a esse fenômeno a outra pessoa (p2), terá que dar um nome a esse fenômeno (linha oblíqua da direita). p2, por seu turno, entenderá o que p1 lhe disse dirigindo-se pelo menos mentalmente ao mesmo fenômeno. Se a interação tiver continuidade, p2 se transformará em falante a propósito do assunto iniciado por p1 e responderá, momento em que p1 certamente evocará de novo o assunto da interlocução e assim segue o fluxo interlocucional. A interação terá êxito, ou seja, haverá entendimento se a relação de p2 for pelo menos aproximadamente a mesma de p1. Do contrário, haverá incomunicação. 
Da perspectiva ecolinguística, sobretudo da da Linguística Ecossistêmica, as pessoas se comunicam referindo-se a algum aspecto do mundo e referem-se a aspectos do mundo comunicando-se. Mesmo quando o assunto da interação comunicativa seja algo mental, social ou até abstrato ou fictício. A abstração é “abstraída” de algo e a ficção nunca é 100% fictícia. Do contrário, não haveria entendimento entre os interlocutores.

4.1. Interações endoecológicas
A Ecolinguística e, com mais razão, a Linguística Ecossistêmica perfilha a visão ecológica de mundo (VEM), motivo pelo qual se interessa pela língua sob todos os pontos de vista. Nada na língua lhe é estranho. Ela se interessa não apenas por questões exoecológicas, como contato de línguas, relações entre língua e usuários, entre usuários-língua e espaço, questões político-ideológicas embutidas nos discursos etc. Ao linguista ecossistêmico interessam também as interações endoecológicas, estruturais.
Desde a década de sessenta existe um modelo de análise linguística que trata de fenômenos estruturais da perspectiva das interações. Trata-se da Gramática Estratificacional, de Sydney M. Lamb que, infelizmente, foi apagada pelo poder político da então Gramática Gerativo-Transformacional de Noam Chomsky. Foi uma pena, pois a teoria de Lamb estava perfeitamente no espírito da nova visão de mundo introduzida pela Teoria da Relatividade e pela Mecânica Quântica. A de Chomsky ainda estava no nível da Mecânica Clássica de Newton. A teoria de Lamb atualmente é chamada de Linguística Neurocognitiva, que dispõe de uma ótima página na internet. A versão anterior dessa teoria dispõe de uma pequena apresentação em português em Couto (1982). O ecolinguista Adam Makkai era um de seus seguidores. Seus textos aqui mencionados são ecolinguístico-estratificacionais.
Comecemos pelo léxico. Mais do que qualquer outro componente da língua, ele se apresenta eminentemente em forma de redes. Os chamados ‘campos lexicais’ e ‘campos semânticos’ já apontam nessa direção. Quando olhamos para a representação das ‘relações paradigmáticas’ de Saussure, temos mais uma comprovação de que o léxico está organizado em forma reticular. Se mencionarmos a qualquer falante de português palavras como angico, peroba, aroeira, ... e pedirmos que continue a lista, ele certamente continuará enumerando nomes de árvores. Mentalmente, o vocabulário de nossa língua está organizado por ‘campos semânticos’.
Na morfologia já há alguns poucos estudos que mostram que a derivação e a composição, por exemplo, existem para aumentar o poder referencial-comunicativo da língua. Além do mais, toda inovação morfológica começa na interação comunicativa, como qualquer parte da língua. Inclusive questões sintáticas podem (e devem) ser abordadas ecolinguisticamente. Por exemplo, já foi mostrado que a concordância (nominal e verbal) existe para que falante e ouvinte saibam quem faz o que a que(m). Não se trata apenas de relações lógicas, como dão a entender as teorias formalistas. Estratégias como a relativização existem para facilitar a tarefa do falante, evitando repetições desnecessárias, segundo o princípio do menor esforço. Em Couto (2007: 157-218) já há algumas sugestões de estudos linguístico-endoecológicos.
De acordo com os antigos, as relações endoecológicas emergiram das exoecológicas. Para eles, “os homens agora procuravam, como único método legítimo de pesquisa, derivar e justificar regras da gramática de sistemas de teorias lógicas e metafísicas sobre a natureza da realidade” (Robins 1980: 75). O problema é que eles partiam da ideia de relações abstratas, como fazia Hegel, não de relações concretas entre fenômenos, como faziam Marx e Engels. Na visão dos dois últimos, e da Linguística Ecossistêmica, a endoecologia é, ao contrário, tributária da exoecologia, a comunicação é primária, a significação secundária. Essa é também a posição do filósofo da linguagem e ecolinguista alemão Peter Finke, que também parte de relações naturais efetivas, não de abstrações.

4.2. Interações exoecológicas
As relações exoecológicas têm constituído o objeto quase exclusivo da Ecolinguística desde seu surgimento. O próprio Haugen havia apresentado como programa para a disciplina questões como contato de línguas, bi- e multilinguismo, política e planejamento linguístico etc. Os trabalhos que surgiram em torno do grupo de Graz (Áustria), tendo Alwin Fill como líder, se dedicam basicamente a análises de discursos da perspectiva da teoria de Norman Fairclough. No entanto, há outras linhas de pesquisa a que a Linguística Ecossistêmica tem se dedicado. Existe a Etnoecologia Linguística, que investiga, via linguagem, a relação que os membros de pequenas comunidades mantêm com o meio circundante. Temos os estudos toponímicos, para os quais a visão ecolinguística é um ótimo ponto de partida. E assim por diante.
As questões tratadas pelos primeiros ecolinguistas (contato de línguas etc.) também fazem parte da agenda da Linguística Ecossistêmica. Ela se ocupa das relações língua-mundo, língua-usuário sob todos os aspectos pelos quais possam aparecer. Afinal, ela é um ponto de vista unificado a partir do qual se pode estudar todo e qualquer fenômeno linguístico.

5. A Linguística Ecossistêmica
Já sabemos que a Linguística Ecossistêmica vê a língua essencialmente como interação. Por isso valeria a pena fornecer mais alguns detalhes sobre sua emergência. Vou falar dela muito brevemente e apenas da perspectiva histórica, uma vez que ela está relativamente bem discutida nas demais postagens aqui presentes. A ideia do ecossistema fundamental da língua começou em Couto (1986), em que língua ficou intimamente associada ao povo que a fala, de que é dependente, donde a relação L-P. Em 1995, em textos inéditos, ela foi elaborada um pouco mais mediante o acréscimo do território do povo, tendo o todo recebendo o nome de 'comunidade', inclusive aparecendo com a representação triangular comum na atualidade, como na figura 6.

   L
 /    \
  P----T
Comunidade
Ecologia Fundamental da Língua
Fig. 6
 
A única diferença é que, na figura de 1995, língua (L) se interpõe entre população (P) e território (T), o que vai contra a posição da Linguística Ecossistêmica de que a língua existe na população, com o que toda relação dela com T é mediada por P. Em Couto (1998), a ideia foi desenvolvida ainda mais, mas o modelo continuou sendo chamado de 'comunidade' e L continuou entre P e T. O mesmo se dá em Couto (1999), mas os três componentes (L, P, T) já são discutidos em relativo detalhe. Em Couto (2000) já apareceu a expressão 'ecologia fundamental da língua', ao lado de 'comunidade'. Em Couto & Silva (2001), reaparece a denominação 'ecologia fundamental da língua', o que é repetido em Couto (2001a),  Couto (2001b), Couto (2002a) e (2002b).
A seguir, apresento em forma tabelar a evolução do modelo.

- Couto (2003): Juntamente com Couto (2001a), este texto discute minuciosamente a questão da interação, partindo da pré-linguística, que pode levar a um dos conceitos centrais da Linguística Ecossistêmica, a comunhão. Comunhão é uma condição prévia para que haja comunicação. O ensaio inclui um histórico desse conceito.
- Couto (2005): Salienta a importância de se fazer distinção entre 'comunidade de língua' e 'comunidade de fala'.
- Couto (2007): Primeiro manual de introdução aos estudos ecolinguísticos publicado em português. Ainda não usa a denominação 'Linguística Ecossistêmica', mas já é inteiramente ecossistêmico. Mostra que a Ecolinguística deve tratar não só de questões de discurso, mas de todo e qualquer aspecto do fenômeno linguístico, inclusive questões estruturais, como na endoecologia de Makkai (1993).
- Couto (2008): Retoman os conceitos de comunidade de fala versus comunidade de língua, mostra que o que se chama de contato de línguas é, na verdade, contato de povos e respectivas línguas. Propõe que nesse processo o mais importante é como se dá a interação comunicativa, não interferências de uma língua na outra ou vice-versa.
- Couto (2009a): Desenvolve os ecossistemas natural, mental e social da língua, com respectivos meios ambientes. Alarga as possibilidades de abordagem ecolinguística ao contato de línguas, com diversos estudos de caso. 
- Couto (2009b): Desenvolve os três ecossistemas linguísticos em relativo detalhe pela primeira vez.
- Couto (2012a): Mostra a importância de se retomarem os conceitos dialetológicos de 'onomasiologia' e 'semasiologia' nos estudos de semântica.
- Couto (2012b): Prova que a filosofia taoísta é também ecológica, discutindo diversas questões concretas e propondo uma semântica taoísta.  
- Couto (2013a): Apanhado geral da Ecolinguística até a data, acenando pela primeira vez para a possibilidade de uma 'análise do discurso ecológica'.
- Couto (2013b): Mostra pela primeira vez que a interação comunicativa está sujeita a regras, as 'regras interacionais" (afins da análise da conversação) e de 'regras sistêmicas', mostrando que estas são apenas auxiliares daquelas. Com isso, um enunciado pode parecer truncado, fragmentado, aparentemente caótico, mas estar perfeitamente em consonância com os hábitos interacionais da comunidade de fala em que ocorre. Isso porque se entende 'regra' no sentido de 'regra-regularidade' (coletivamente aceita), não no de 'regra-regulamento (imposto de cima para baixo).
- Couto (2013c): Primeira apresentação relativamente sistemática da Análise do Discurso Ecológica (ADE), como extensão da Linguística Ecossistêmica para estudar questões textuais/discursivas. Ele é anterior a Alexander & Stibbe (2014) de um ano. Disponível apenas em:
- Couto[Elza] (2013): Pela primeira vez, introduz o tópico 'metodologia' na ecolinguística, salientando que só pode tratar-se de uma 'multimetodologia', pois é parte de algo válido para todas as ciências ecológicas, a 'ecometodologia'.
- Couto (2014b): Desenvolve de modo mais sistemático a Análise do Discurso Ecológica, inclusive com alguns exemplos de análise.
Não tive a pretensão de enumerar tudo que a Linguística Ecossistêmica tem feito e pode fazer. Quis apenas dar alguns exemplos do que se pode fazer a partir dela. Entre outros estudos já feitos, temos alguns sobre as preposições, sobre as conjunções (neste blog), sobre a concordância nominal e verbal etc. A pesquisa continua, com diversos estudos, encontros, palestras, artigos, cursos etc. É uma área nova, mas bastante efervescente. Vemos novos interessados surgirem a todo momento em diversas universidades brasileiras. Para mais informações, pode-se consultar a postagem Linguística Ecossistêmica (em português e em inglês).
Só gostaria de acrescentar que a Ecolinguística Dialética de Odense (Dinamarca) e as 'três ecologias de Felix Guattari tiveram uma forte influência no surgimento dos três ecossistemas linguísticos (natural, mental, social). As 'quatro ecologias' do filósofo e ecologista brasileiro Leonardo Boff também influíram aí, e, adicionalmente, na emergência do 'ecossistema fundamental da língua', mediante sua 'ecologia integral'. Outros autores que apresentaram ideias apropriadas posteriormente pela Linguística Ecossistêmica são Charles Peirce, Kurt Lewin, Albert Bandura, Peter Finke, Wilhelm Trampe, alguns deles já mencionados acima.

5. Observações finais
A Ecolinguística representa uma virada na história dos estudos linguísticos. Ela fez muitos cientistas desviarem o olhar da língua vista como coisa, como um conjunto de regras pairando no ar, mesmo que passíveis de estudo sistemático. Ela redirecionou seu olhar para a visão ecológica de mundo (VEM), defendida enfaticamente por Fritjof Capra, como se vê, entre diversas outras publicações, em Capra (1998). É bem verdade que o status quo acadêmico não tem levado a VEM a sério. Para muitos autores que a aceitam, porém, a Ecolinguística deve ser encarada como um novo paradigma para o estudo dos fenômenos da linguagem.
Tanto tudo isso é verdade que praticamente nada na Ecolinguística surgiu ex nihilo. Mesmo seu ramo mais recente, a Linguística Ecossistêmica, tem precursores históricos em todos os níveis e setores. A começar do próprio conceito de ‘ecossistema linguístico’, que tem a mesma origem que o ecossistema biológico, uma vez que ambos constam de uma população (P), o território (T) dessa população e as interações que se dão entre os membros da população e entre eles e o território ou o mundo (L). A única diferença, se é que se trata de diferença, é que as interações do ecossistema linguístico são chamadas de ‘língua’, enquanto que as do ecossistema biológico são chamadas de ‘interação’ mesmo ou, às vezes, de ‘comportamento’. Aliás, para os behavioristas a língua é basicamente comportamento. Ecossistêmico-linguisticamente, ela o é pelo menos parcialmente. Por fim, por ser ecológica, a Ecolinguística está em sintonia com a nova visão de mundo introduzida pela Teoria de Relatividade e pela Mecânica Quântica, superando assim a visão cartesiana, estática da Mecânica Clássica.

Referências
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