RINEMAS COMO FRASILHAS PERIFÉRICAS DA LINGUAGEM: UMA INTERPRETAÇÃO LINGUÍSTICO-ECOSSISTÊMICAHildo Honório do Couto
Universidade de Brasília
1. Introdução
Os dois termos básicos do título, “rinema” e “frasilha”, são neologismos desconhecidos nos estudos linguísticos brasileiros. Por esse motivo, eu começo dando uma ideia inicial do que eles vêm a ser, deixando a explicação detalhada para a seção seguinte. O termo “frasilha” é uma tradução de phrasillon do francês, no sentido de palavra-frase, como se vê em Tesnière (1959, p. 94-95). A versão portuguesa foi proposta em Couto (2023a). Sobre a forma francesa phrasillon, o Larousse online diz que é “synonyme de mot-phrase” (sinônimo de palavra-frase). O Petit Robert não registra o termo. Quanto a “rinema”, está sendo proposto aqui pela primeira vez, a despeito do fato de o que ele designa ocorrer com relativa frequência em diálogos informais do dia a dia das pessoas. Um primeiro exemplo que poderia ser dado aqui é ?m1hm2, que frequentemente substitui a reposta “sim” em diálogos informais e/ou familiares. A despeito de serem neologismos, “rinema” e “frasilha” são vocábulos possíveis, ou seja, apenas estão inativados.
=>Além dos rinemas, existem muitas outras formas de expressão que fogem do padrão lexicogramatical do português, a exemplo das de caráter proxêmico, cinésico e paralinguístico, que não só têm nome como têm sido investigadas até certo ponto. Os estudos proxêmicos começaram com Hall (1966); os cinésicos, que incluem a mímica, com Birdwhistell (1968); a paralinguagem, com Trager (1958). Além disso, existem as interjeições e as onomatopeias, que excepcionalmente foram objeto de alguns estudos, sobretudo as primeiras, incluídas em algumas gramáticas tradicionais como parte das exclamações (COUTO; COUTO, 2023). As onomatopeias foram investigadas por Couto, Silva & Albuquerque (2024). No Apêndice se pode ver um quadro que tenta classificar rinemas, onomatopeias e interjeições. Esse quadro mostra ainda que as interjeições, como os rinemas, são frasilhas (palavras-frase), frases compactadas que substituem locuções e ou orações plenas.
=> Eu não encontrei nenhum artigo acadêmico em português dedicado ao que estou chamando de rinema. Pelo título da Gramática do português falado do Projeto NURC em 8 volumes, era de se esperar que contivesse estudos sobre ele, pois falas se dão em diálogos, nos quais ele ocorre com relativa frequência. É verdade que umas duas centenas de exemplo aparecem nos diversos capítulos da seção “Organização Textual-Interativa”, presente em todos os volumes. No entanto, apenas em umas cinco páginas e meia de um texto de 32, de Hudinilson Urbano, no volume VII (2002, p. 206-211), se encontram comentários sobre ah, ahn, ahn ahn, hem?, uhn, uhn uhn, uhn. Porém, e como em todos os capítulos dos 8 volumes, o objetivo quase único é a gramática. Em vez de “fala”, “réplica” ou “turno”, fala-se sempre em “texto”. Mesmo da perspectiva gramatical, não levaram em conta a sintaxe dialogada (SLAMA-CAZACU, 1982), espécie de sintaxe interturnos, ou sintaxe interlocucional, por oposição à sintaxe sistêmica ou textual. A explicação é que, como talvez acima de 80% da linguística ocidental, veem a língua como instrumento de comunicação, com o que a reificam, pois instrumento é uma coisa, como o pai da ecolinguística, Einar Haugen, havia dito já na década de 1970 (HAUGEN, 2016, p. 59).
=>Pode até ser que exista algo publicado, mas eu não consegui encontrar nada. Uma exceção é 2tsip1!, conhecido como muxoxo. Sobre ele se pode encontrar algum ensaio publicado, mesmo que ele se interseccione com as interjeições, expressando desagrado, pouco caso etc. Mas, mesmo esse pouco que existe publicado sobre ele frequentemente enfatiza a etimologia, sugerindo ou afirmando que tem origem no quimbundo.
=>Na seção 7 abaixo apresentarei alguns exemplos de rinemas ingleses com respectivos significados e sugestão de equivalentes em português. Aliás, em inglês existem menções sobre o de que falo aqui há várias décadas. A partir dos trabalhos em análise da conversação eles começaram a ser investigados em mais profundidade. Assim, Schegloff (1982) fala especificamente de uh huh (equivalente de ?m1hm2) e assemelhados que ocorrem “entre sentenças” na interação comunicativa. Jefferson (1984) e Schegloff & Jefferson (1984) também analisam mm hm e yeah. Alguns anos depois, já fora da análise da conversação, vieram Gardner (1998), Ward (2006) e Yax (2024). Este último trabalho não é um artigo no formato acadêmico propriamente dito, mas parece confiável, pois foi elaborado por uma professora que ensina como pronunciar bem o inglês.
=>Diante do exposto, um dos meus objetivos é propor um termo para designar essas expressões vocais não verbais/lexicais que podem ocorrer nas interações comunicativas, sobretudo em situações informais, familiares, íntimas. Trata-se de expressões como as do português e do inglês já mencionadas. Mas, o objetivo maior deste ensaio é apresentar uma lista dessas expressões e tentar explicá-las no contexto da linguística ecossistêmica, mais especificamente, seu papel nos atos de interação comunicativa, nos fluxos interlocucionais (COUTO, 2015, 2018).
2. Nomeando o fenômeno e explicando o nome
=>Como já antecipado na Introdução, rinema é um tipo especial de frasilha (palavra-frase), diferente de outras como as interjeições prototípicas e alguns marcadores/operadores conversacionais, tanto por sua sonoridade quanto por seu papel na interação comunicativa, no fluxo interlocucional. Não é por acaso que Ward (2006) os chama de “non-lexical conversational sounds” (sons conversacionais não lexicais).
=>Eu não encontrei na literatura linguística, nem mesmo na especificamente fonética, nenhum termo para designar expressões como as que estou chamando de rinema. Baseado no fato de quase todos os exemplos que serão investigados aqui serem proferidos com a boca fechada e o ar saindo pelo nariz, como em ?m1hm2, considerei o vocábulo “rinema” o mais apropriado pelo fato de combinar a palavra rhis/rhinós (nariz) do grego com o sufixo ema, muito comum em termos técnicos linguísticos, como fonema, morfema, semema e alguns até de outras áreas, como categorema. Existem uns poucos casos de rinemas com o ar saindo adicionalmente pela boca como 1?ãhã2 que, por sinal, é uma forma alternativa para ?m1hm2. Mas, como na maioria dos casos o ar sai apenas pelo nariz, ou pelo menos adicionalmente por ele, considerei o vocábulo “rinema” como o termo técnico mais apropriado, mesmo havendo algumas exceções não nasalizadas, como o exemplo (3) da lista abaixo. Rinema é um neologismo fonética, morfológica e vocabularmente aceitável, pois está formado por regras sistêmicas amplamente dominadas pelos usuários da língua (COUTO; COUTO, 2023).
=>É claro que dar nome a determinado fenômeno não é explicá-lo cientificamente. Porém, se quisermos falar dele, cientificamente ou não, é necessário que tenhamos alguma forma de nos referirmos a ele. Referir-se a um fenômeno, designando-o, é lexicalizá-lo, criar uma etiqueta, um nome para ele. Do contrário, teríamos que usar longos circunlóquios.
=> Se expressões como ?m1hm2 e 1?ãhã2 ocorrem com relativa frequência, mesmo que seja em situações informais, não podem ser simplesmente ignoradas por quem pretenda apresentar uma “gramática” completa do português, ou seja, todas as frases formáveis pelas regras-regularidade (SÉRIOT, 1986, p. 143) que subjazem aos atos de interação comunicativa, à comunicação. O mesmo vale para a morfologia e a fonética-fonologia.
=>Reportando-se a algo que Ray Birdwhistell lhe disse, Roger Wescott afirmou que “nós não conseguiremos compreender inteiramente a evolução humana se não prestarmos a mesma atenção que prestamos às partes moles do corpo como prestamos às duras”. Por isso, “dificilmente entenderemos a comunicação humana em sua inteireza se não aprendermos a valorizar as partes ‘moles, quentes’ (soft, warm) da língua tanto quanto as frias e duras” (cold, hard) (WESCOTT, 1976, p. 508). Por outras palavras, só entenderemos a linguagem humana em sua integralidade se tratarmos não apenas do que é formalizável, como têm feito os estudos gramaticais desde a antiguidade e como tem feito a linguística moderna (estruturalista, gerativista etc.). É preciso encarar a língua em sua inteireza, holisticamente, como é vista pela linguística ecossistêmica (FINKE, 1996; TRAMPE, 1990; STROHNER, 1996; COUTO, 2015).
=>Um dos especialistas mais recentes que se debruçaram específica e exclusivamente sobre os rinemas, Nigel Ward, disse: “esses sons menos comuns têm sido deixados de lado. Quatro questões básicas não têm sido formuladas. Primeiro, porque existe essa variedade de sons; segundo, o que eles significam; terceiro, o papel deles na comunicação; quarto, seu status cognitivo” (WARD, 2006, p. 3). Todas essas perguntas aguardam respostas e o presente ensaio é uma tentativa de dar uma resposta pelo menos parcial a algumas de suas manifestações no português brasileiro.
3. Exemplos de rinemas
=>Passemos aos rinemas que consegui inventariar. Não é tarefa nada fácil transcrever os dados, uma vez que neles ocorrem sons que não são usuais na língua portuguesa, contrariamente ao que assevera Ward (2006) para o inglês. Um tipo de frasilha frequentemente confundido com os rinemas, as interjeições, se constituem de sons normais do português, embora frequentemente violem seus padrões silábicos (CV, CVC, CCV etc.). Não é para menos que muitas gramáticas tradicionais e os próprios linguistas ignorem não só os rinemas, mas até mesmo as interjeições, a despeito do fato de ocorrerem com relativa frequência nos diálogos entre os falantes. Vejamos os exemplos, adiantando que certamente existem outros. Só a continuidade da investigação poderá dizer se falta algo, e o que falta.
=>A lista abaixo contém 21 exemplos de rinemas. Alguns deles se interseccionam com as interjeições, como 1eein2?! / 1?eein2?! (8) e o clique 2tsip1!, conhecido como muxoxo. Estatisticamente, e como tipos, pode até ser que sejam muito poucos, mas como ocorrências são bastante frequentes em atos de interação comunicativa. Devido às dificuldades de transcrição e aos matizes finos de sentido, deve haver muitos outros exemplos além desses 21. É preciso dar continuidade à investigação, como veremos mais abaixo.
(1) 1ã2? / 1?ã2? = como?, não entendi!, repita o que você disse!
(2) 3ã2 /3?ã2 = sim, entendi, continue
(3) 2 aa1 / 2?aa1 = ah, bom!; agora entendi (19, 20)
(4) 3aa1 / 3?aa1/ = que pena! (contém também acepção interjetiva, mas é reação a algo dito)
(5) 1ãhã2 / 1?ãhã2 = sim
(6) 2ã?ã1 / 2?ã?ã1= não
(7) 1ein2? / 1?ein2? = como?, não entendi!
(8) 1eein2?! / 1?eein2?! = como assim?, não parece!
(9) 1èè2 / 1?èè2 = não há outra alternativa, né?
(10) 3èèè1 / 3?èèè1= tá certo!; o que você disse parece ser verdade
(11) 1èè3? / 1?èè3? = é isso mesmo que você está dizendo? Que estranho?
(12) 3hã?3 = é verdade? não acredito!
(13) 1mhm2 / ?1mhm2/= sim (sinônimo de (4))
(14) m2?m1/?m2?m1 = não (sinônimo de (5))
(15) 3?mm1 = pode ser; quem sabe?
(16) 1?m2? = e aí?; como vai ser?
(17) 3h?mm1 = empatia, simpatia e certo entusiasmo pelo que foi ouvido
(18) 1m1! = sinal de dúvida
(19) 3m2 / 3?m2 = sim, entendi, continue (2, 20)
(20) 3~2 /3?~2 = sim, entendi, continue (2, 19)
(21) 2tsip1! (clique > muxoxo) = sinal de discordância, aborrecimento, insatisfação, enfado diante do visto ou ouvido.
=> 3?aa1 = Já lavei a louça (marido); 3?aa1 = que bom! (esposa).
=>A primeira parte do exemplo 20 (3~2) consta de som nasal, com a boca aberta e tom alto a médio. A segunda parte (3?~2) é o mesmo rinema, iniciado por oclusão glotal, forma alternante da primeira, provavelmente com mais ênfase.
=>Os exemplos a seguir não são rinemas propriamente ditos, pois sua função é ganhar tempo para planejar a continuidade da fala. Seu significado é textual, não diretamente interacional ou referencial. Se contêm algo de interacionalidade é indiretamente, devido ao fato de indicarem que o falante está ganhando tempo para continuar formulando o que pretende dizer ao ouvinte. Eles receberam vários nomes, tais como fillers (preenchedores) e muitos outros. Como os rinemas de (1) a (21), eles podem ocorrer com ou sem oclusão glotal (?) inicial.
(22) 1ââ1-1?ââ1 /1?ââ1-1?ââ1 = preenchedor (filler), sinal de hesitação durante a fala
(23) 1èèè1 /1?èèè1 = preenchedor (filler), sinal de hesitação durante a fala.
4. Significantes e significados dos rinemas
=>Usando “significante” para som e “significado” para sentido, podemos notar que há muitas dificuldades para se estudarem os rinemas, tanto fonética quanto semanticamente. Às vezes é difícil até mesmo saber se o que aparentemente é um novo rinema é apenas variação fonética de um outro. É o caso, por exemplo, da presença ou ausência de oclusão glotal (?). Em ?m2?m1 (não) ela ocorre no início e no meio da expressão, mas pode ocorrer também só no meio, como na forma alternativa m2?m1. Uma hipótese a ser investigada é se a presença de oclusão glotal no inicio representa ênfase. Dos dois exemplos para “não”, o segundo parece ser mais enfático.
=> Para um estudo aprofundado dos rinemas são necessários conhecimentos finos de fonética articulatória e acústica. Os símbolos fonéticos disponíveis que poderiam ser usados são bastante complexos, a ponto de requererem o uso de softwares especializados, que vão além dos da Associação Fonética Internacional (AFI) e dos criados pelo Summer Institute of Linguistics (SIL), contrariamente ao que afirma Ward (2006). Por isso, uso apenas símbolos disponíveis nos processadores de texto mais conhecidos, com um pouco de explicação verbal. Essa maneira de representar os rinemas está longe do ideal, mas, para efeitos práticos, creio que é suficiente, pois este estudo é incipiente, e seu objetivo principal é mostrar que os rinemas fazem parte da língua portuguesa. Entre os sons que compõem os rinemas temos a aspiração [h], a oclusão glotal [?] – representada pelo sinal de interrogação –, a presença da consoante bilabial nasal como núcleo de sílaba (como vogal), como em [?m1hm2/hm1hm2?] e [m2?m1/?m2?m1], e até cliques, a exemplo do muxoxo 2tsip1, além dos componentes suprassegmentais já mencionados: tom, entoação, acento etc.
=>Mais do que os sons/fonemas que os compõem, os rinemas se distinguem basicamente pelo tom, o acento, a aspiração, a oclusão glotal, a quantidade vocálica (vogal longa ou breve) e até por cliques. Sem entrar muito na técnica fonética de transcrição dos sons, utilizo os índices 1, 2 e 3 para tom baixo, médio e alto, respectivamente; para a oclusão glotal, o símbolo ?, exceto no final do rinema em que ele é sinal de interrogação mesmo. Ocorre ainda a aspiração (h), que tampouco faz parte do inventário fonológico do português. Há transição entre os tons: alguns exemplos apresentam tom ascendente, outros apresentam-no descendente e outros, finalmente, podem ser planos. A aspiração também pode ocorrer no início ou no meio do rinema.
=>Já vimos que os sons são pronunciados normalmente com a boca fechada e o ar saindo pelo nariz. Existem também rinemas, como ?ã1hã2 (sim), ?ã2?ã1 (não) e 1ã2? (não entendi), em cuja prolação o ar sai também pela boca, mas a nasalidade está sempre presente. Ela é um dos fatores mais relevantes, embora haja algumas exceções como ?2aa2 (entendi; ah, bom!), nas quais o ar sai apenas pela boca. Deve-se notar que em todos esses exemplos em que não há nasalidade trata-se da vogal que Roman Jakobson chamou de compacta, com o canal bucal inteiramente aberto [a, ã] (JAKOBSON; HALLE, 1956). Enfim, [a] é a vogal por assim dizer universal.
=>No que tange ao significado, os rinemas são altamente polissêmicos. Eles apresentam alta variabilidade de acepção semântica, manifestada por alterações na configuração fônica. Para entender isso é importante distinguir significado e sentido. Significado é a significação vista da perspectiva da comunidade de língua que, no caso dos itens lexicais normais da língua, está consignado nos dicionários. É uma significação básica, ou significado sistêmico, aplicável a diversos casos, com diversas acepções. O sentido é constituído pelos usos que emergem nos atos de interação comunicativa. Quase como direção que a palavra toma na interlocução, portanto, é o significado interlocucional.
=>O rinema 3?aa1, excepcionalmente sem nasalidade, tem também valor interjetivo, pois, de alguma forma, é uma exclamação com o sentido de “que pena!”, “estou estarrecido”, “não acredito!”, “é verdade?”, “sério?” (COUTO; COUTO, 1993). Porém, não deixa de ser uma reação (resposta) a um estímulo (pergunta ou informação) como a dada pelos demais rinemas. Esse exemplo mostra que na verdade não há uma separação rígida entre as categorias que estabelecemos para estudar a linguagem e para as categorias em geral. Como disse André Martinet, as categorias linguísticas resultam do que conseguimos captar da realidade fora da linguagem, realidade que, como sabemos, é infinitamente muito mais ampla e complexa do que a linguagem. Nas palavras dele, “cada língua organiza à sua maneira os dados da experiência, e por isso aprender uma língua nova não consiste em colocar novos rótulos em coisas conhecidas, mas sim em habituarmo-nos a analisar doutro modo os objectos das comunicações linguísticas” (MARTINET, 1964, p. 7-8). Podemos acrescentar que cada língua representa um recorte que os membros da comunidade fizeram na realidade extralinguística, é o que eles conseguiram perceber, identificar e denominar, como mostrado na ampulheta de lexicalização (COUTO, 2021, p. 67-70). É o de que precisam para se comunicarem entre si.
=>A maioria das palavras da língua tem mais de um sentido, é polissêmica. Em Diário de um escritor, Dostoievski fala sobre seis operários bêbados que discutiam entre si, todos usando o mesmo palavrão, mas com “acento apreciativo”, e “entonação expressiva”. Nas palavras do próprio Dostoievski, “assim, sem pronunciar uma única outra palavra, eles repetiram seis vezes seguidas sua palavra preferida, um depois do outro, e se fizeram compreender perfeitamente” (apud BAKHTIN, 1981, p. 132-134). Trata-se de um ótimo exemplo de como o sentido das palavras emerge nos atos de interação comunicativa, partindo de um significado básico, às vezes até violando-o.
=>Gardner (1998) e Ward (2006) dizem que os rinemas – mesmo não usando esse termo – não se reportam ao assunto da conversa em que entram. Traduzido em termos linguístico-ecossistêmicos, eles têm significado interacional, contrariamente às demais frasilhas em que se incluem, que no geral têm significado referencial.
5. Os rinemas no fluxo interlocucional
=>Vejamos o lugar dos rinemas em pequenos fluxos interlocucionais, sobre os quais se pode ler Couto & Couto (2023). Nota-se que os rinemas são sempre reação a algo afirmado ou interrogado. Se forem reação a uma pergunta, pertencem ao nível 2, como nas duas primeiras réplicas de (a); se reação a uma afirmação, podem ser de nível 3, como no exemplo (b). Tudo isso em princípio, pois afirmação e pergunta podem ocorrer ao longo de todo o fluxo, o que significa que também os rinemas podem emergir em níveis posteriores a 3, a exemplo do final de (b). Sempre que houver uma pergunta ou uma afirmação de um interlocutor, o outro pode reagir com um rinema. Na representação do fluxo interlocucional, sigo a sugestão de Saussure de usar A e B para os dois interlocutores, além de F para falante, O para ouvinte além dos índices 1, 2, 3 etc., para indicar em que nível do fluxo interlocucional se encontra a fala. Os fluxos interacionais a seguir mostram que ein? pode ter pelo menos três acepções, no terceiro caso com o e mais longo
(a)
A-------B
F1 → O1: Este carro é um Fiat?
|
O2 ← F2: 1ein2? (não entendi a pergunta)
|
F3 → O3: Este carro é um Fiat?
|
O4 ← F4: 1ãhã2 ou m1hm2 (sim)
(b)
A-------B
F1 → O1: O Bolsonaro elogiou o Lula
|
O2 ← F2: 1eein2? (como assim?, não acredito no que você está dizendo)
|
…………
(c)
Ele pode ser solicitação de repetição de uma asserção, por não ter sido entendida:
A------B
F1 → O1: Este carro é novo
|
O2 ← F2: 1ein2? (não entendi o que você disse)
|
F3 → O3: Este carro é novo
|
O4 ← F4: Ah, bom, mas não parece!
|
………..
No caso de reação a uma pergunta, trata-se de perguntas despropositadas, pois de certa forma a pergunta já sugere algum tipo de resposta, como no fluxo a seguir:
A------B
F1 → O1: O Bolsonaro elogiou o Lula?
|
O2 ← F2: 1eein2? (como assim?, não acredito que você está fazendo essa pergunta)
|
…………
=>Semelhantemente à cena narrada por Dostoievski, também no caso presente é possível haver pequenos diálogos constituídos inteiramente de rinemas. Numa situação em que dois amigos estão diante da porta da sala de um chefe mal-humorado, e eles precisam falar com ele, pode haver o seguinte diálogo:
A -----B
F1 → O1: 1m2? (e aí, você vai entrar?, apontando para porta com a cabeça)
|
O2 ← F2: 1mm1! (não sei não!)
|
F3 → O3: 3h?mm1 =(eu entendo porque você duvida se vai entrar ou não)
=>Vimos que os rinemas têm a ver diretamente com o próprio processo interlocucional, com a dinâmica da interação entre falante e ouvinte, ou seja, a comunicação, contrariamente às interjeições, que estão no lado significação, por serem parte das exclamações, que expressam a relação entre falante e as realidades de que ele fala, ou seja, a referência. Por isso, às vezes podem ser expressas por orações completas. Repetindo, os rinemas têm como base o significado interacional, ao passo que nas interjeições a base é o significado referencial. Os rinemas ocorrem no próprio núcleo da linguagem, a interação pessoa-pessoa, a comunicação, e se relacionam com a referência apenas indiretamente. As interjeições ocorrem diretamente na interação pessoa-mundo, a referência, e apenas indiretamente entram na comunicação. Elas são um “tipo de comunicação mais reduzido, em que só entra em jogo o locutor”, como em ai! e que pena!” (POTTIER, AUDUBERT, PAIS, 1975, p. 107). As onomatopeias parece estarem entre um e outra. Em Couto, Silva & Albuquerque (2024) há um pormenorizado estudo sobre elas (ver Apêndice).
=>A reação (resposta) que os rinemas dão a um estímulo, pergunta ou asserção, pode ser positiva ou negativa. As únicas exceções aparentes são os rinemas que se imbricam com as interjeições, como 1ã2?, 1ein2? e 3?aa1. As duas primeiras solicitam a repetição de uma pergunta exclamativamente. Mesmo assim, é uma pergunta, mesmo que sob a forma de outra pergunta, uma repergunta. A terceira normalmente não pressupõe nenhuma outra reação, pois expressa simplesmente decepção e desagrado de B frente a algo dito por A.
6. Rinemas, interjeições, preenchedores e marcadores conversacionais
=>Os autores que falaram sobre rinemas no âmbito da língua inglesa, mesmo sem usar esse nome, não os distinguiram das interjeições nem dos chamados “marcadores/operadores discursivos” e/ou “marcadores/operadores conversacionais”. É o caso do tantas vezes aqui citado Nigel Ward. Aliás, ele falou também das interjeições, mas pondo-as no mesmo balaio que os rinemas (WARD; WARD, 2019). Na verdade, muitas interjeições parecem ter algo de rinemático, assim como alguns rinemas têm algo de interjetivo. Isso acontece porque ambos são frasilhas, ou seja, palavras-frase, frases comprimidas, no sentido supramencionado de Lucien Tesnère (ver Apêndice). Existem ainda os preenchedores (fillers), expressões usadas pelo falante para ganhar tempo na organização do que vai dizer e para sinalizar ao ouvinte que ainda não vai lhe passar o turno. Como eles têm a ver diretamente com o desenrolar do enunciado (texto, frase, sintaxe) vários capítulos da Gramática do português falado contêm muitas referências a eles. Enfim, rinemas, interjeições, preenchedores e marcadores conversacionais compartilham vários traços, mas cada um deles tem suas especificidades. Quanto às interjeições, a mera enumeração dos rinemas na seção 3 deixa entrever algumas de suas intersecções com eles. O presente artigo se concentra apenas nos rinemas. A propósito, vale a pena dar uma olhada no quadro do Apêndice no final deste artigo, em que entram ainda as onomatopeias.
Nunca é demais frisar que os rinemas são primariamente interacionais, pertencem ao domínio das interações ecossistêmicas pessoa-pessoa, e só secundariamente referenciais (interações pessoa-mundo), ao passo que as interjeições são primariamente referenciais e só secundariamente interacionais. Aliás, as onomatopeias também se enquadram nesse último caso (COUTO, SILVA, ALBUQUERQUE, 2024). Os “marcadores/operadores discursivos”, como o próprio nome já sugere, são primariamente textuais, se enquadram na categoria da metafunção textual de Halliday (2014). Esse assunto foi parcialmente discutido em Couto & Couto (2023). Pelo menos os exemplos a seguir são rinemas-interjeições.
-1ein2?/1?ein2? = como?, não entendi!
-1èè2 = não há outra alternativa, né?
-3èèè1 = tá certo!; o que você disse parece ser verdade
-1eein2?! = como assim?, não parece!
-2?aa1 = sim; entendi; ah, bom!
-3?aa1 = que pena!, estou muito decepcionado.
=>Uma diferença fundamental entre rinemas e interjeições é o fato de os primeiros serem reação ao que foi perguntado ou afirmado, logo, são parte integrante dos atos de interação comunicativa. As interjeições, por seu turno, são exclamações, manifestações de espanto, desagrado, alegria como satisfação-resposta a algo constatado, uma asserção ou uma pergunta. É uma manifestação súbita do que o indivíduo sentiu.
=>Ao contrário do que disse Nigel Ward para os rinemas ingleses, comparativamente às palavras do léxico português consignadas nos dicionários e/ou ativadas nas interações comunicativas entre os falantes, os rinemas são pouco numerosos. Se fôssemos levar em conta apenas a estatística, eles seriam efetivamente irrelevantes. No entanto, quando observamos os diálogos reais que se dão no dia a dia das pessoas, eles ocorrem com relativa frequência. Por isso não podem ser ignorados por uma teoria que olhe para a língua em sua inteireza (holisticamente) e essencialmente da perspectiva da interação comunicativa, como é o caso da linguística ecossistêmica (COUTO, 2015, 2018).
7. Rinemas ingleses
=>Em inglês têm sido feitas menções esporádicas a rinemas há muito tempo, mas, é nos estudos sobre análise da conversação que eles começaram a ser tratados com maior profundidade científica. Já em Sacks, Schegloff & Jefferson (1974) se veem diálogos em que aparecem alguns rinemas, porém, não há nenhum comentário especificamente sobre eles. Quanto a Schegloff (1982) e Jefferson (1984) não só apresentam exemplos como os comentam. Mais recentemente, Gardner (1998), Ward (2006) e Yax (2024) se debruçaram sobre os rinemas ingleses, apresentando vários exemplos e interpretando-os. Incluem até mesmo a pronúncia em arquivo de áudio. Gardner (1998) e Ward (2006) estão publicados em revistas acadêmicas, mas Yax (2004) está disponível apenas na internet, no site Yax Accent, dedicado a dar dicas sobre a pronúncia do inglês americano. É um bom trabalho e está disponível em
https://www.yaxaccent.com/magazine/sounds-americans-make-in-conversation
=>Eis os exemplos apresentados por Yax, com a definição e a pronúncia dadas por ela. A representação gráfica da autora está mantida, assim como sua numeração. Incluo uma sugestão de equivalentes aproximados em português, de acordo com a numeração dos exemplos da seção 3.
1.HMM (tom alto a baixo). Equivalente português: número (15) supra.
“Em geral usado para mostrar que se está ligado na conversa e revelar interesse no tópico e uma propensão para continuar ouvindo”.
2.Mm- hmm (segundo som alto). Equivalente: (12)
“Um sim afirmativo ou uma maneira informal de dizer ‘você está certo’”.
3.Uh- huh (acento na segunda sílaba). Equivalente aproximado: (9), talvez.
“Som neutro que não revela envolvimento ou interesse. Se dito em um tom baixo lento pode ser visto como rude, pois é uma maneira de mostrar que a conversa é trivial, maçante e você deseja que ela se encerre”.
4. Unh-unh (acento nos dois sons). Equivalente: (9) e, talvez, mais o de número (5)
“Esse som significa “não”. É uma resposta não lexical a questões básicas”
5. Nyaoo-hao (alto, depois baixo). Aparentemente, não tem equivalente português.
“Significa “em hipótese alguma” geralmente devido a surpresa’.
6.Nyeah (tom baixo). Talvez equivalha a “tá, mas…..”
“Cuidado com esse exemplo. Ele é diferente de “yeah”. Os americanos geralmente o usam para se sobreporem à fala do outro, para fazê-lo parar de falar”.
7.Ya-huh (tom alto). Não encontrei equivalente.
“Sim afirmativo quando alguém se mostrou surpreso ou incrédulo”.
8.Mm - hmm (os dois com tom baixo). Se aproxima de (12).
“Os americanos usam este som durante a conversa para deixar o falante continuar e mostrarem que não desejam fazer comentários”.
9. Mmmm (alongado). Equivale a (2).
“O ouvinte entende o falante, mas fica neutro e não mostra se concorda ou não”.
10. Uh-oh. Não há equivalentes.
“Semelhante a oops, reconhecendo um equívoco”.
As equivalências são meramente aproximadas, pois há diferenças culturais que afetam tanto o significante quanto o significado do rinema. Assim, o equivalente brasileiro (15) do exemplo 1 de Yax (HMM) tem ainda uma conotação de algo como “empatia, simpatia e certo entusiasmo pelo que foi ouvido”. O exemplo 2 de Yax tem um significado quase igual ao brasileiro de número (12), que apresenta as formas alternativas com e sem oclusão glotal, além de ser proferido um pouco mais lentamente. Além disso tem o de número (4) como sinônimo. A negação, número 4 da autora (Unh-unh), tem uma configuração fonética bastante diferente da forma brasileira (13). Enfim, é um assunto interessante, que valeria a pena ser investigado mais a fundo, inclusive comparativamente.
Um problema adicional com esses rinemas ingleses é a representação gráfica. Geralmente ela se encontra bem distante do que seria uma transcrição fonética.
8. Observações finais
=>Eu gostaria de acrescentar um tipo de expressões tidas como periféricas que antigamente ocorriam com muita frequência nas fazendas de grupos familiares. O processo avassalador da globalização e do agronegócio está levando ao desaparecimento da relação íntima que havia entre humanos e animais domésticos. Havia uma interação diuturna entre os humanos e as diversas espécies de animais com que conviviam, tais como bovinos, suínos, equinos, galináceos e outros. Em alguns núcleos familiares mais tradicionais, ainda deve haver resquícios dessa interação, que era feita com sons e combinações de sons que nem sempre fazem parte do português. Em Couto (1995, 2021, p. 97-108) há um pequeno apanhado sobre essa linguagem.
=>As expressões usadas nessa comunicação humano-animal, em geral como ordens e chamamentos, não são rinemas nem interjeições ou onomatopeias. São expressões usadas por falantes de variedades de português brasileiro, embora sejam periféricas e muitas vezes desconhecidas dos habitantes das cidades. Porém, são importantes, pois, como mostrado nos dois estudos recém-mencionados, pode se tratar de “universais da comunicação”, como me foi dito pelo falecido especialista em fonética-fonologia articulatória John Ohala, em comunicação pessoal. O estudo delas pode lançar alguma luz sobre o estudo das onomatopeias e dos rinemas.
=>Por fim, por serem de cunho informal, íntimo, típicos da linguagem infantil, o uso de rinemas em diálogos menos informais e com desconhecidos pode ser interpretado como desconsideração, menosprezo, desinteresse pelo que está sendo discutido. Porém, e como mostrado pelos analistas da conversação, nas interações comunicativas do dia a dia eles podem trazer mais vivacidade à discussão, tornando-a menos formal e mais viva.
Referências
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https://www.yaxaccent.com/magazine/sounds-americans-make-in-conversation
APÊNDICE
Exclamações, onomatopeias e rinemas
Exclamações
Onomatopeias
Rinemas
(1) Complexas (2) Simples
(1a) Oracionais (1b) Frasais /
Locuções interjetivas (2a) Interjeições vocabulares (2b) Interjeições prototípicas
Quantos peixes você pegou!
A estrada é estreita!
Como é estreita a estrada!
Aquela vista é linda!
Vai à puta que pariu!
Vai tomá no cu!
Não enche o saco!
Puta que pariu!
Deus me livre!
Deus te ouça!
etc.
(A maioria das orações afirmativas e interrogativas pode ter uma versão exclamativa) Quanto peixe!
Pelo amor de Deus!
Que estrada estreita!
Que cara idiota!
Que vista linda!
Meu Deus!
Quem dera!
(Também) pudera!
Alto lá!
Nossa senhora!
Puta merda!
Puxa vida!
Cruz credo!
etc. Alá!
Basta!
Bis!
Bravo!
Calma!
Caramba!
Caralho!
Credo!
Cuidado!
Droga!
Fora!
Fui!
Jesus!
Misericórdia
Nossa!
Porra! / Pô!
Puxa!
Socorro!
Tadinho!
Tomara!
Vaza!
Viva!
Vixe!
etc. ã?
Ah!
Ai!
Chi!/Chhh!
Eba!/Epa!
Eco!/Eca!
Ei!
Eia!
Eita!/Eta!
Fiu fiu
Ih!
Ix/ixi!
Òh!
Ôh!
Oba!
Opa!
Psit!/Psiu!
Uai!/ué!/uê!
Uhu!
Ui!
etc. Atchim
Au au
Bafafá
Béé
Blablablá
Buaá
Catapimba
Chuá
Cocoricó
créu
Glu glu
Miau
Muu
Pá
Pá pum
Patati patatá
Piu piu
Pocotó
Pum
Ra ra rá (riso)
Tatibitate
Tchibum
Tic tac
Tintim (1,2)
Tititi
Toc toc
Vapt vupt
Vrum/vum
Zum zum
etc. 1ã2?
2?aa1
3?aa1
2?ã?ã1
1ââ1-1ââ1
1ein2?
1eein2?!
1èè2
3èèè1
1èèè1
3hã?2
1?ãhã2
2h?mm1
hm1hm2
3?mm1
?m2?m1
2tsip1!
(muxoxo)
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